sábado, 26 de junho de 2010

Relatório da captura do barco à FRELIMO pela C.CAÇ. 3309. 25 de Junho de 1971

In: "Do Tejo ao Rovuma. Uma breve pausa num tempo das nossas vidas. Moçambique 1971-1973. História da Companhia de Caçadores 3309", páginas 159, 161, 162, 163 e 321. Carlos Vardasca. Alhos Vedros, 21 de Setembro de 2009.
Foto 1: Grupo de Combate da Companhia de Caçadores 3309 que participou na captura do barco à FRELIMO, e que pelo facto todos os seus intervenientes foram condecorados com a Cruz de Guerra de 4ª Classe.

Foto 2: Barco capturado à FRELIMO em 25 de Junho de 1971 numa operação no rio Rovuma.
Foto 3,4 e 5: Relatório sobre a captura do barco elaborado pelo comandante da Companhia de Caçadores 3309, Capitão Miliciano de Infantaria NM 36048760, Hélio Augusto Moreira (Relatório de Acção nº 04/71- Zona de Acção nas coordenadas 3940,5.1056,25 - Operação BARRAGEM).

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Abertura do Aquartelamento de MUIDINE. 14 de Junho de 1972

(...) De catorze a vinte e quatro de Junho de mil novecentos e setenta e dois efectuou-se a operação "INTEGRAL" comandada pela Capitão Barros (1).
2 Grupos de Combate deram protecção às máquinas de Engenharia na abertura do itinerário entre TARTIBO e coordenadas (1059-3959) onde foi aberto o aquartelamento de MUIDINE (2).
2 Grupos de Combate desmontaram todo o material de TARTIBO, carregaram e transportaram todo o material da Companhia em coluna-auto para MUIDINE onde a Companhia ficou instalada (...)

In: Região Militar de Moçambique. Batalhão de Artilharia 3877. Companhia de Artilharia 3506 (3º Fascículo) período de 25 de Maio a 25 de Junho de 1972.

(1) Gabriel Monteiro Magno de Barros. Capitão do Quadro Especial de Oficiais. Comandante da Companhia de Artilharia 3506 (mais conhecido naquele período pelo "Capitão Pistolas") que foi render a Companhia de Caçadores 3309 ao Aquartelamento de TARTIBO em 03 de Fevereiro de 1972. Este oficial viria a falecer em
28 de Abril de 1992.

(2) Na abertura do Aquartelamento de MUIDINE participou também o 3º Pelotão da Companhia de Caçadores 3309, que regressou a Nangade em 25 de Outubro de 1972.
Foto 1: Vista aérea do Aquartelamento de MUIDINE. Cabo Delgado. Norte de Moçambique 1972.
Foto 2: Elementos de um Grupo de Combate da Companhia de Caçadores 3309 na picada NANGADE-MUIDINE recentemente aberta, quando efectuavam a protecção a uma coluna de reabastecimento com destino a MUIDINE.
Foto 3: Eu, quando de uma das várias deslocações que efectuei a MUIDINE em colunas de reabastecimento. 1972

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Rumo a Kytaia, em busca do Furriel Castro Guimarães

Exmos. Senhores Padre Jerónimo, Padre José Alexandre e Ronaldo, e toda a Comunidade Missionária Boa Nova em Malema. Nampula. Moçambique.

O assunto que me leva a entrar em contacto convosco e a pedir a vossa colaboração, de facto nada tem a ver com assuntos religiosos, mas foi uma das formas, e penso que os senhores padres compreenderão (entre tantas outras que tenho vindo desde há muito a encontrar) para tentar obter um contacto de alguma Comunidade religiosa que esteja radicada em Moçambique ou até mesmo na Tanzânia, e me possa ajudar nesta “odisseia” que já dura há alguns anos.
A Razão de eu ter mencionado o nome do Padre José Alexandre, prende-se com o facto de eu também morar em Alhos Vedros e ter pedido ao Padre Carlos desta paróquia, se conhecia algum padre seu conhecido em missão em Moçambique, tendo ele me indicado onde moravam os familiares do Padre José Alexandre e estes me terem facultado o seu endereço postal.
Por ser mais fácil via internet, através do Google cheguei ao vosso contacto e aqui estou a apresentar as minhas preocupações.
O facto é muito simples e, sem entrar em outros pormenores (porque a história do ocorrido a envio em anexo) resumidamente trata-se do seguinte:
Durante a guerra colonial, um soldado das nossas tropas (Furriel Castro Guimarães do qual envio foto) foi morto em combate em 15 de Novembro de 1972, nas margens do rio Rovuma, junto à fronteira com a Tanzânia.
O seu corpo foi levado pelos guardas fronteiriços daquele país, onde exibiram na sua comunicação social a captura daquele militar (junto foto desse jornal) de onde nunca mais se soube do seu paradeiro, tendo o mesmo sido considerado pelo exército português como “desaparecido em combate”.
Possivelmente, e como a aldeia tanzaniana mais próxima de onde se deu o incidente era a aldeia de Kytaia, pensamos que o seu corpo foi sepultado nas proximidades dessa mesma aldeia, estando eu (com o conhecimento da Liga dos Combatentes Portuguesa assim como dos familiares daquele militar) a tentar pesquisar e a encontrar contactos que me levem cada vez mais próximo daquela aldeia Tanzaniana, pois só assim, e tendo a certeza do local exacto da sua sepultura, é que a Liga dos Combatentes se compromete a intervir para a exumação do seu corpo.
Embora sabendo não ser a vossa Comunidade vocacionada para tratar destes assuntos, mas por saber que serão sensíveis a esta minha pretensão, e porque também até agora ainda não consegui os apoios necessários que me disponibilizem contactos que me levem cada vez mais próximo daquela aldeia tanzaniana, apenas pretendia da vossa parte, e uma vez que a vossa Comunidade se encontra em Moçambique, que me dissessem se têm alguma missão mais a norte, em Cabo Delgado (Nangade, Pundanhar, Nhica do Rovuma, Palma etc.) ou até mesmo na Tanzânia, próximo da aldeia de Kytaia (no sul deste país) e me pudessem facultar alguns contactos ou me ajudassem a obtê-los, de forma a eu poder entrar em contacto com as autoridades locais daquela aldeia e saber se de facto se lembram do ocorrido e dizerem onde sepultaram o corpo do referido militar.
Será possível a vossa Comunidade (caso tenham alguma missão naquelas aldeias Moçambicanas ou conheçam outras em missão na Tanzânia) facultar-me os contactos necessários ou até interceder junto das autoridades locais para saber em concreto onde o corpo do referido militar foi sepultado?
Há muito que os familiares deste militar desesperam para finalmente fazerem o seu luto, só possível com o regresso dos seus restos mortais à pátria.
Não lhes querendo tomar mais tempo, e apesar de ter dado conhecimento deste caso a todos vós, eu gostaria de poder falar sobre este assunto pessoalmente com o Padre José Alexandre, dado que (segundo a sua cunhada) ele virá a Portugal de férias em Junho, mais concretamente à vila de Alhos Vedros, com o qual teria imenso gosto conversar mais em pormenor sobre este caso.
Fico-vos imensamente grato pela vossa disponibilidade, aguardando com alguma ansiedade o vosso contacto.
Melhores cumprimentos

Carlos Vardasca
31 de Maio de 2010
Nota: Carta enviada aos missionários da Congregação Católica Boa Nova, radicados na aldeia de Malema, a norte da cidade de Nampula. Moçambique.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Testemunho da trágica "Odisseia" de um ex-combatente

"África Minha"
Temos utilizado este espaço para, aqui e ali, veicular umas imagens, uns comentários, políticos ou outros, dito umas baboseiras, que também são necessárias, etc, etc., sendo que, … de nós próprios, da nossa realidade, da nossa odisseia, daquilo que foi a nossa passagem pela guerra, pouco temos comentado, e possivelmente seria curioso, divagar e recordar um pouco.
Será também uma forma de nos conhecermos melhor, já que, o que nos tem trazido aqui, foi a passagem comum, mas em locais diferentes, com experiências diferentes, por uma guerra que, para além de massacrante, como todas as guerras, foi injusta.
Da época em que a vivemos fisicamente, temos comentado muito pouco.
Seria interessante uma passagem pelo passado, uma espécie de exorcismo. O que acham?
Começo por mim:
Estive em Tartibo, local situado junto à margem do Rio Rovuma.
Este local esteve, não direi, submerso por invasão das águas daquele rio, mas quase, durante cerca de 2 meses.
Aqui, sofrer o rigor da situação, foi obra, meus amigos.
Dois pelotões da Companhia de Caçadores 3309 e um da Companhia de Artilharia 2745, passaram muita fominha, muita sede e grande parte do grupo de resistência, padecia de paludismo e bilharzioze.
Urinava-se algo que mais parecia sangue.
Não vou alongar-me em descrições, pois isto daria pano para mangas.
Após a secagem das terras, junta-se toda a C.Caç. 3309 e começam as operações em terra firme.
Muita patrulha, muita picada.
Dá-se o ataque à famosa Base Beira.
Foi a minha primeira grande operação militar, quase clássica, tendo em atenção os meios envolvidos.
Assisti, infelizmente, à morte de um elemento da 3ª Companhia de Comandos que mais tarde iria para Omar.
Decidi aí, ingressar nos GEs.
Fui integrado nos GEs 212, de Nhica do Rovuma, em fomação, ao qual dei toda a instrução em Nangade, e prestámos juramento em Agosto de 1971, juntamente com outros Grupos Especiais, na presença do General Kaúlza de Arriaga.
Na 2ª parte da nossa formação fomos atacar uma base existente nas margens do Lago de Lidede, conjuntamente com outros Grupos Especiais.
Tivemos feridos e efectuámos o ataque que, muito embora não tivéssemos podido confirmar, terá provocado, grandes estragos entre o IN.
Ao retirarmos e após se ter dado a localização com rigor a Omar, este aquartelamento continuou a flagelar o IN, com armas pesadas.
Já em Nhica do Rovuma, local guarnecido por um pelotão da Companhia de Caçadores estacionada em Pundanhar, o qual tinha a responsabilidade da logística da povoação de Nhica do Rovuma, fui assim, o responsável por todas as operações dali desencadeadas pelos GEs.
Ali, assisti, ao abate de um T 6, por artilharia da Tanzânia.
Ali, perdi um graduado dos GEs(1), considerado oficialmente como desaparecido, mas que, bem sei, foi abatido pelos tanzanianos e enterrado na Tanzânia.
Ali, construí um Centro Social para os GEs, onde os reunia e ensinava as primeiras letras em português, pois a maioria, só falava Maconde ou Swahili.
Ali aprendi a falar Maconde e Swahili.
Ali, fiz de guerrilheiro, enfermeiro, parteiro, financiador, agente casamenteiro, segundo os usos e costumes locais.
Ali, era tratado por “Régulo Branco”.
Ali, cheguei a jogar com outros camaradas, ao King, para disputar, o banho seguinte, (não havia água para esses luxos) o qual era agendado para dali a 15 dias.
Ali, fiz emboscadas, golpes de mão, tendo abatido alguns elementos IN, ali fiz prisioneiros, ali apanhei armas, ali, tive mortos em combate.
Ali, requeri o direito à posse de uma Kalashnikov, capturada ao IN, o qual, me foi concedido pelo Comando Geral. Direito esse consignado nas NEP que regulavam as tropas de intervenção onde se enquadravam os GEs.
Ali, me roubaram essa arma.
Quem? – O Sr. Comandante da Companhia de Caçadores que se encontrava sediada em Pundanhar, Capitão Resende.
Ali, estive provavelmente cerca de 6 meses sem conviver com um branco, com excepção dos momentos efémeros, em que era reabastecido.
Ali, cheguei até a duvidar da existência de comboios, televisão e cinema.
Ali, permaneci 22 noites seguidas no mato, para garantir segurança na zona que me estava confinada, das colunas que efectuavam o abastecimento a Nangade, em função da “ Operação Fronteira”.
Talvez a operação que, em paralelo com a Nó Górdio e a defesa da barragem de Cabora Bassa em Tete, tenham envolvidos mais meios, quer em pessoal, quer em recursos militares.
Ali, tive paludismo 6 vezes seguidas.
Ali, fui proposto à graduação ao posto de alferes miliciano, por 2 ocasiões, as quais sempre rejeitei.
Ali, estive até ao fim da comissão de serviço.
Pergunto: Alguém saberá por acaso o que aconteceu aos GEs (após o 25 de Abril), a quem ensinei português, e aos quais, disse e enganei, que aquela era a língua da sua pátria?
Eu não sei. E tenho pena.
Apenas sei, que já após o 25 de Abril os combates prosseguiam, aqui e ali, e possuo correspondência dessa época, que o confirmam.
(1) Furriel Miliciano NM 12619071, Castro Guimarães dos GEs 212, abatido em 15 de Novembro de 1972 nas margens do rio Rovuma e sepultado em lugar desconhecido em território tanzaniano.
Foto 1: O Furriel Miliciano Pinto, com o seu grupo de combate dos GEs 212 à saída do arquartelamento do Nhica do Rovuma no início de uma operação. Cabo Delgado, Norte de Moçambique 1972.
Foto 2: O Furriel Pinto embrenhado na mata em plena operação próximo do rio Metumbué. Cabo Delgado, Norte de Moçambique 1972.

Filipe Manuel Cardão Pinto
Ex-Furriel Miliciano NM 14172170 da Companhia de Caçadores 3309.
Comandante dos GEs 212 no Aquartelamento de Nhica do Rovuma.

Quarta-feira, 02 de Junho de 2010